sábado, janeiro 31, 2004
A Jazzar na Mina
Meteorologicamente, o céu cor de chumbo que pendia sobre as nossas cabeças prometia (e cumpria!) muita chuva, mas o "Improvisos Ao Sul", insolúvel na água, deslocou-se até à Mina de São Domingos, onde teve oportunidade de presenciar a inauguração da exposição "Mina de São Domingos - 150 Anos de História" e o lançamento do belíssimo livro de fotografia intitulado "Fotogramas da Memória". Refira-se que a música sempre desempenhou um papel muito importante na formação dos jovens e nos tempos livres da comunidade mineira, com a primeira banda filarmónica a ser fundada em 1894. Escutamos ainda três modas cantadas pelo "Grupo Coral da Mina de São Domingos". Antes, no lugar dos Corvos, deliráramos ao almoço com um fabuloso cozido de grão e um javali estufado. Banda sonora da jornada? "Sketches of Spain", de Miles Davis, na ida, e "Lokomotiv", do trio de Carlos Barretto com o sax barítono francês François Corneloup, no regresso. A Mina tem swing!
sexta-feira, janeiro 30, 2004
Emissão desta noite
Hoje é sexta-feira, dia de "Improvisos Ao Sul" na Rádio Voz da Planície (104.5 FM - Beja), entre as 23h e as 24h. Na emissão de hoje, teremos as habituais secções (agenda de espectáculos, sugestão internet, álbum da semana, etc.) e assinalaremos os aniversários dos nascimentos do grande violinista Stéphane Grappelli e do trompetista Roy Eldridge. Falaremos também do surgimento da primeira big band alentejana, a Big Alen Band, e da vinda a Beja do guitarrista Pedro Madaleno. Na segunda metade do programa dedicaremos atenção especial ao guitarrista Kenny Burrell, em particular ao seu disco "Guitar Forms", editado originalmente em 1965. Estão todos convidados a fazer-nos companhia logo à noite!
Roy Little Jazz Eldridge
O jazz é uma música aberta. Aí reside, provavelmente, o fascínio que nutrimos por ela. É uma música onde não há épocas nem estilos estanques. Não há compartimentos temporais, nem quebras repentinas. Muitos são os músicos que atravessaram diferentes etapas, nunca abdicando de deixar a sua impressão digital em cada uma delas. Roy Eldridge é um exemplo disso mesmo. Podemos considerar que estabeleceu a transição entre o estilo clássico de Louis Armstrong e as inovações estilísticas de Dizzy Gillespie (que o considerava, aliás, como um dos seus ídolos). Tocou nas orquestras brancas de Gene Krupa e de Artie Shaw, onde a sua condição de negro era tida, qual bicho raro, como uma espécie de fenómeno aberrante. Sofreu na pele as agruras da discriminação racial. Membro daquela a que podemos chamar a última geração do swing, Eldridge foi também ele um dos pioneiros da revolução be-bop. Desenvolveu uma sonoridade muito particular, marcada pelo brilho, velocidade e virtuosismo, alicerçada em referências do swing, mas adaptando-lhe um discurso moderno. Acompanhou Benny Goodman, o Jazz At The Philarmonic, Ella Fitzgerald. Nasceu a 30 de Janeiro de 1911, na cidade norte-americana de Pittsburgh. Se fosse vivo, fazia hoje 93 anos.
quinta-feira, janeiro 29, 2004
Big Alen Band
Chegou-nos hoje uma boa notícia: o Alentejo já tem uma big band! A Big Alen Band, assim se chama a formação, é já considerada a primeira big band do Alentejo. É composta por 20 músicos, oriundos de todo o Alentejo, e pretende apresentar, segundo disse ao "Improvisos Ao Sul" Vasco Santana, um dos responsáveis do projecto, "um repertório diversificado, que vai desde o jazz a alguns temas tradicionais da música portuguesa, e até um cheirinho a Brasil e a música latina". A Big Alen Band nasceu da vontade de diversos músicos em criar uma formação deste género, preenchendo assim uma lacuna que se verificava nesta região do país. O "Improvisos Ao Sul" congratula-se com o aparecimento desta big band, embora ainda não tenha tido oportunidade para escutar o seu som, mas está curioso! Uma boa oportunidade para o fazer é ir até Aljustrel, onde a Big Alen Band se vai estrear em concertos ao vivo, no próximo sábado, 31 de Janeiro, pelas 21h, no Auditório da Biblioteca Municipal de Aljustrel.
Finalmente!
Depois das peripécias que aqui contei a 24.01.2004, já recebi (finalmente!) pelo correio o n.º 9 da revista "All Jazz". Agora já estou à espera do n.º 10!!
A batalha dos tenores loucos
Um dos discos que tenho andado a ouvir mais insistentemente por esta altura é "Tenor Madness", do Quarteto de Theodore "Sonny" Rollins. Neste disco, gravado em Nova Iorque a 24 de Maio de 1956, Rollins é acompanhado pelos músicos que compuseram o histórico quinteto de Miles Davis (que, relembre-se, foi o principal impulsionador da carreira de Rollins, estando, no entanto, ausente nesta gravação): Red Garland (piano), Paul Chambers (contrabaixo), "Philly" Joe Jones (bateria) e John Coltrane (sax tenor). Um disco onde Rollins se destaca, demonstrando toda a sua enorme dimensão musical. Pessoalmente, não me canso de ouvir até à exaustão a "batalha" que Rollins e Trane travam no tema título do disco, "Tenor Madness", um épico de 12 minutos e 15 segundos de puro deleite! Como curiosidade, convém referir que, quando terminavam um tema, Sonny Rollins costumava, no pessimismo que lhe era peculiar, abanar a cabeça e dizer: "Nothing´s happening". Importa-se de repetir?
quarta-feira, janeiro 28, 2004
PROJAZZ: 15 anos a dar-nos música
A PROJAZZ completa 15 anos de existência. Foi fundada e iniciou a sua actividade em 1 de Janeiro de 1989, tendo como principais objectivos a produção de concertos e festivais de Jazz, a promoção de artistas e a direcção e assistência de produção de discos e espectáculos nas áreas do jazz e afins. Duarte Mendonça, seu sócio fundador, iniciou-se como produtor de concertos e festivais de jazz em 1974, no então "Cascais Jazz", com Luís Vilas Boas, comemorando-se este ano também o 30º aniversário da sua actividade. A PROJAZZ leva a cabo iniciativas de produção própria, nomeadamente o Estoril Jazz / Jazz Num Dia de Verão e o GALP Jazz, para além de participar em co-produções com o Centro Cultural de Belém e outras entidades. O "Improvisos Ao Sul" apresenta à PROJAZZ e, em especial, a Duarte Mendonça, os parabéns pelas (muitas) horas de excelente jazz que nos tem proporcionado ao longo deste tempo. Fazemos votos para que esta actividade prossiga por muitos anos. E fica o repto: que tal descentralizar a actividade, em parceria com entidades locais, em especial do interior do país? Certamente que parcerias desse género resultariam em iniciativas que poderiam contribuir para fazer chegar o jazz a locais onde dificilmente chegará de outra forma, e onde faz tanta falta...
Pedro Madaleno: confirmação
De acordo com fonte ligadas à Câmara Municipal, e tal como o "Improvisos Ao Sul" tinha avançado ontem, o guitarrista de jazz Pedro Madaleno apresentar-se-á em concerto na cidade de Beja, no próximo dia 17 de Fevereiro, pelas 22h, na Casa da Cultura.
Teremos assim oportunidade de ver ao vivo um dos mais importantes guitarristas portugueses de jazz da actualidade. Um concerto a não perder!
Teremos assim oportunidade de ver ao vivo um dos mais importantes guitarristas portugueses de jazz da actualidade. Um concerto a não perder!
Hugo Alves em digressão algarvia
O trompetista Hugo Alves irá efectuar em Fevereiro uma pequena digressão por alguns clubes algarvios, para apresentação do CD "Estranha Natureza", estando previstos concertos para Lagos (20 de Fevereiro, Stevie Ray's Blues Jazz Bar), Vilamoura (21 de Fevereiro, Vilamoura Jazz Club), Faro (22 de Fevereiro, Bar Ovelha Negra) e Aljezur (23 de Fevereiro, em local a confirmar oportunamente), todos com início aprazado para as 22h. Relembre-se que o CD "Estranha Natureza" foi considerado pelo sítio jazzportug@l, e também pelo "Improvisos Ao Sul", como um dos melhores discos nacionais de 2003.
terça-feira, janeiro 27, 2004
Pedro Madaleno em Beja?
De acordo com o sítio na internet do guitarrista Pedro Madaleno, o músico tem um concerto previsto para a cidade de Beja no próximo dia 17 de Fevereiro, pelas 22h (o local referido é o Salão Nobre C. M. - será Câmara Municipal?). Para além de Beja, o guitarrista tem também outras datas agendadas para o CCB e o Hot Club (Lisboa), Cascais, Pombal e Leiria. Nestes concertos, Pedro Madaleno (guitarra) será acompanhado por Lukas Frohlich (trompete), M. Amado (baixo) e Vicki (bateria). Pedro Madaleno tem 2 CD's disponíveis no mercado, "Earth Talk" e "Fast Living", ambos de 2002. E tem outro já na fase das misturas finais, intitulado "Underpressure", a ser editado no próximo mês de Maio. Pedro Madaleno estudou 4 anos na escola de jazz do Hot Club de Portugal e cinco anos nos EUA, onde foi bolseiro nas escolas Berklee School of Music, em Boston, e na New School of Social Research (Jazz Program), em Nova Iorque. Trabalhou com grandes nomes do jazz, referindo como seus principais mentores, Lee Konitz, Jim Hall, John Abercrombie e John Scofield. É professor na escola de jazz do Hot Club de Portugal, onde lecciona as disciplinas de Harmonia, Educação Musical/Ear Training e Composição. Dedica-se também a escrever música para dança, vídeo e exposições de artes plásticas. O "Improvisos Ao Sul" vai procurar confirmar esta (boa) notícia. Daremos novidades logo que as tenhamos!
segunda-feira, janeiro 26, 2004
Senhor Violino Jazz
Se fosse vivo, Stéphane Grappelli completaria hoje 96 anos de idade. Nasceu em Paris, tendo sido autodidacta no piano, primeiro, e no violino, depois. Integrou o célebre Quinteto do Hot Clube de França até 1939. Juntamente com Joe Venuti, Stuff Smith e Claude Williams, Grappelli definiu o papel do violino no jazz, através do seu som doce, elegante e cheio de swing. Foi um dos primeiros músicos europeus, a par do guitarrista cigano Django Reinhardt, a exercer forte influência no lado de lá do Atlântico. Quando lhe perguntaram, por ocasião do seu 85º aniversário, se ele ponderava retirar-se, respondeu da seguinte forma: "Retirement! There isn't a word that is more painful to my ears. Music keeps me going. It has given me everything. It's my fountain of youth". Morreu em 1997.
Comentário de Manuel Jorge Veloso
Ciente de que a posição do "Improvisos Ao Sul" em pouco ou nada difere da sua em relação à musica do trio em causa, e sem ter tido qualquer intenção de deturpar as suas palavras ou de pôr em causa os seus argumentos, junto transcrevo na íntegra o comentário que Manuel Jorge Veloso teve a amabilidade de nos enviar a propósito do nosso post de ontem, no sentido de clarificar a sua posição.
"Foi com interesse que li a sua referência de hoje ao trio «The Bad Plus» e (com menos entusiasmo, confesso) que anotei a citação parcial que fez da minha crítica ao concerto do CCB na edição do DN de 25.01.04.
Permita-me, assim, as seguintes observações:
1. Em 26.04.03 no suplemento "DNmais" do mesmo DN, tive a oportunidade de escrever, na apreciação crítica ao álbum «These Are The Vistas», o seguinte: «Perante esta formação de aparência exterior clássica - acústica na sua exuberância instrumental e, portanto, explicitamente arredia dos habituais truques das fusões - como não ficarmos "derrotados" por este novo conceito integrado do solo, recusando egocentrismos tão atreitos ao jazz e sempre integrando os contributos colectivos num novo conceito de composição (e de dramaturgia!) partilhada em progresso? Como não compreender que, para esta geração de músicos, os novos standards a transfigurar e a desconstruir passaram a ser Smells Like Teen Spirit (Nirvana), Heart of Glass (Blondie) ou Flim (Aphex Twin) e já não My Funny Valentine ou All The Things You Are? Como não nos deixarmos extasiar pela invenção absorvente de um (falsamente minimal) Silence is the Question, a intensidade obsessiva de 1972 Bronze Medalist, os desarmantes contornos bluesy de Guilty ou as "memórias" do jazz reflectidas em Boo-Wah? (...)
E acrescentava ainda:
"Uma verdadeira disponibilidade auditiva para este álbum permitirá porventura reconhecer a evidência de que, enquanto alguns procuram contrapor ao frustrante revivalismo hard-bop-anos 60 outras não menos patéticas contrafacções free-jazz-anos 70 - deste modo julgando agarrar-se a novas e quiméricas vanguardas-músicos há, como estes e alguns outros, que assim vão construindo, paulatinamente, o autêntico jazz do presente e do futuro."
2. Tendo escrito isto que então escrevi, estou portanto à vontade para lhe censurar com frontalidade o facto de, retirando uma frase do contexto, ter aproveitado apenas uma parte da minha crítica ao concerto para (mesmo que implicitamente) parecer querer insinuar que, também para mim, "estas manobras» [a forma como (o trio) se apropria de temas pop/rock] "não encaixam nos cânones jazzízticos mais enraizados» (fim de citação).
3. Isto é tanto mais grave quando, noutros pontos da minha crítica ao concerto, e ao mesmo tempo que eu reiterava que «não retiro uma palavra ao que aqui escrevi (DNmais, 26.04.03) sobre a «pedrada no charco» que este trio pode constituir no actual panorama do jazz contemporâneo», eu cuidei ainda de acrescentar: "(...) a música que este trio nos propõe tem de ser analisada em conformidade com cânones estéticos ou propostas de criação que, sendo deste tempo, se afirmam totalmente diversas de um qualquer "modelo único" que deva, para todo o sempre, vigorar no jazz." (fim de citação).
4. Isto não significa que, ao mesmo tempo e com o rigor analítico a que me obriga o respeito pelos potenciais leitores do meu texto, eu não possa sentir-me defraudado e indignado pelo facto de, no concerto, o trio ter utilizado aquilo que considerei «golpes baixos de pendor mercantil (...) sobretudo a demagogia barata, o estilo gongórico e a exacerbada intensidade sonora com que os The Bad Plus procuraram puxar os aplausos de um público tornado vulnerável», sendo pelo menos estranho que esta última referência tenha surgido truncada na sua citação do meu texto.
5. Por último, gostaria de sublinhar que, no balanço de fim do ano publicado no "DNmais" de 26.12.03, eu classifiquei «These Are The Vistas» em 2º. Lugar entre os 10 melhores discos de jazz de 2003!
6. Chega?
Saudações jazzísticas,
Manuel Jorge Veloso
Lisboa, 26.01.04 "
"Foi com interesse que li a sua referência de hoje ao trio «The Bad Plus» e (com menos entusiasmo, confesso) que anotei a citação parcial que fez da minha crítica ao concerto do CCB na edição do DN de 25.01.04.
Permita-me, assim, as seguintes observações:
1. Em 26.04.03 no suplemento "DNmais" do mesmo DN, tive a oportunidade de escrever, na apreciação crítica ao álbum «These Are The Vistas», o seguinte: «Perante esta formação de aparência exterior clássica - acústica na sua exuberância instrumental e, portanto, explicitamente arredia dos habituais truques das fusões - como não ficarmos "derrotados" por este novo conceito integrado do solo, recusando egocentrismos tão atreitos ao jazz e sempre integrando os contributos colectivos num novo conceito de composição (e de dramaturgia!) partilhada em progresso? Como não compreender que, para esta geração de músicos, os novos standards a transfigurar e a desconstruir passaram a ser Smells Like Teen Spirit (Nirvana), Heart of Glass (Blondie) ou Flim (Aphex Twin) e já não My Funny Valentine ou All The Things You Are? Como não nos deixarmos extasiar pela invenção absorvente de um (falsamente minimal) Silence is the Question, a intensidade obsessiva de 1972 Bronze Medalist, os desarmantes contornos bluesy de Guilty ou as "memórias" do jazz reflectidas em Boo-Wah? (...)
E acrescentava ainda:
"Uma verdadeira disponibilidade auditiva para este álbum permitirá porventura reconhecer a evidência de que, enquanto alguns procuram contrapor ao frustrante revivalismo hard-bop-anos 60 outras não menos patéticas contrafacções free-jazz-anos 70 - deste modo julgando agarrar-se a novas e quiméricas vanguardas-músicos há, como estes e alguns outros, que assim vão construindo, paulatinamente, o autêntico jazz do presente e do futuro."
2. Tendo escrito isto que então escrevi, estou portanto à vontade para lhe censurar com frontalidade o facto de, retirando uma frase do contexto, ter aproveitado apenas uma parte da minha crítica ao concerto para (mesmo que implicitamente) parecer querer insinuar que, também para mim, "estas manobras» [a forma como (o trio) se apropria de temas pop/rock] "não encaixam nos cânones jazzízticos mais enraizados» (fim de citação).
3. Isto é tanto mais grave quando, noutros pontos da minha crítica ao concerto, e ao mesmo tempo que eu reiterava que «não retiro uma palavra ao que aqui escrevi (DNmais, 26.04.03) sobre a «pedrada no charco» que este trio pode constituir no actual panorama do jazz contemporâneo», eu cuidei ainda de acrescentar: "(...) a música que este trio nos propõe tem de ser analisada em conformidade com cânones estéticos ou propostas de criação que, sendo deste tempo, se afirmam totalmente diversas de um qualquer "modelo único" que deva, para todo o sempre, vigorar no jazz." (fim de citação).
4. Isto não significa que, ao mesmo tempo e com o rigor analítico a que me obriga o respeito pelos potenciais leitores do meu texto, eu não possa sentir-me defraudado e indignado pelo facto de, no concerto, o trio ter utilizado aquilo que considerei «golpes baixos de pendor mercantil (...) sobretudo a demagogia barata, o estilo gongórico e a exacerbada intensidade sonora com que os The Bad Plus procuraram puxar os aplausos de um público tornado vulnerável», sendo pelo menos estranho que esta última referência tenha surgido truncada na sua citação do meu texto.
5. Por último, gostaria de sublinhar que, no balanço de fim do ano publicado no "DNmais" de 26.12.03, eu classifiquei «These Are The Vistas» em 2º. Lugar entre os 10 melhores discos de jazz de 2003!
6. Chega?
Saudações jazzísticas,
Manuel Jorge Veloso
Lisboa, 26.01.04 "
domingo, janeiro 25, 2004
Tubarões & Carapaus
A propósito do disco "At The Golden Circle", gravado ao vivo pelo trio de Ornette Coleman em 1965, num clube de jazz de Estocolmo com o mesmo nome, e editado pela Blue Note (reeditado em 2002, integrado na Rudy Van Gelder Edition), escreveu Miguel Esteves Cardoso, em crónica publicada no extinto "O Jornal" de 22/01/81 e compilada no livro "Escrítica Pop" (também recentemente alvo de reedição pela Assírio & Alvim), que (e não resisto a transcrever) "Para quem quer começar a pescar jazz, vindo do bote mais pacato do pop, às vezes é melhor mergulhar de cabeça para o oceano dos tubarões, do que andar a perder tempo aos apalpões dentro de um aquário de peixinhos dourados e domesticados. Pode ser-se gravemente mordido, mas as feridas cicatrizam depressa e o jazz fica no sangue, mais do que com ósculos de carapau.". Coleman era um dos tubarões. Aceitam-se apostas para saber que eram (e são) os carapaus.
The loudest piano trio ever
É sempre curioso e estimulante notar que aquilo que faz alguns apreciarem determinada obra de arte (seja ela musical, literária ou de outra natureza) seja precisamente o que faz outros detestarem-na. Esta consideração vem a propósito da recente actuação em Portugal (22/01 - CCB) do trio The Bad Plus, a que, infelizmente, o "Improvisos Ao Sul" não teve oportunidade de assistir. A música deste trio, que ficou conhecida pelo epíteto acima referido, tem causado uma grande divisão de opiniões, em particular devido à forma como se apropria de temas pop/rock (Blondie, Nirvana, Aphex Twin) e os transfigura, tornando o resultado em algo de inclassificável. Se, para alguns, estas manobras são estilisticamente reprováveis, para outros constituem um passo em frente no jazz actual. Não podemos, no entanto, deixar de considerar o seu mais recente álbum "These Are The Vistas", na minha opinião um excelente disco, como um exercício passível de não encaixar nos cânones jazzísticos mais enraízados. Escreve Manuel Jorge Veloso, na sua apreciação crítica ao concerto, publicada no DN de hoje, que não suportou "a demagogia barata, o estilo gongórico e a exacerbada intensidade sonora. Se este é o caminho que o trio entenda dever prosseguir, é bem possível que venha a perder a credibilidade conquistada junto da comunidade jazzística que, justamente, saudou o seu aparecimento.".
sábado, janeiro 24, 2004
CD´s de jazz em Beja
Pelo menos uma vez por semana eu e o meu amigo Rui P. vamos em romaria até uma grande superfície comercial da cidade de Beja em busca de novidades discográficas. É certo que as nossas expectativas nunca são muito elevadas, mas a esperança é a última a morrer. Convém referir, em especial para todos aqueles que não conhecem a cidade, que as (raras) lojas de discos que existiram foram, a pouco e pouco, fechando portas ou dedicando menos atenção à música, sendo que, mesmo nessas, os discos de jazz nunca abundaram. O máximo que temos nesta altura são lojas que, como complemento à sua actividade principal, têm para venda alguns discos, só que de jazz nem vê-los! Na grande superfície comercial que vos falei até existiu uma secção (fantasma, bem sei) dedicada ao jazz / blues, mas que, talvez por magia, também desapareceu. Porquê? Dizem as leis da economia que a falta de procura inibe a oferta. Aquilo que nos vai valendo é a internet e as idas frequentes a Lisboa ou ao Algarve, caso contrário a nossa sobrevivência musical estaria seriamente posta em causa. Alguém quer comentar?
All Jazz - Longa se torna a espera...
O "Improvisos Ao Sul" é assinante, desde a primeira hora (o n.º 6!!), da revista "All Jazz" (única revista portuguesa de jazz). Quando tive conhecimento, pelo nosso amigo João Moreira dos Santos (colaborador da revista), de que o n.º 9 já se encontrava à venda nas (poucas) bancas, pensei que a longa espera estava prestes a terminar. Esperei mais alguns dias para que a revista chegasse entretanto pelo correio, mas.... não chegou... Resolvi comprá-la. Para saber o que se estava a passar enviei um e-mail. Até hoje não obtive qualquer resposta. Continuo à espera. Apesar de todos os habituais problemas inerentes à publicação de uma revista deste género (especialmente em Portugal...), não será preciso mudar alguma coisa?
sexta-feira, janeiro 23, 2004
Emissão de hoje
No "Improvisos Ao Sul" de hoje (entre as 23h e as 24h, na Rádio Voz da Planície - Beja 104.5 FM), para além das habituais secções (notícias, novidades discográficas, agenda de espectáculos, sugestão internet), dedicaremos alguma atenção ao álbum de estreia "Raw" do cantor de jazz português, Kiko. Na 2ª parte, centraremos atenções no pianista, compositor e nome grande do jazz, Dave Brubeck.
Praça da República
O "Improvisos Ao Sul" endereça votos de parabéns ao blogue, conterrâneo e amigo, Praça da República, em especial ao seu mentor Nikonman, pelos 7 meses de presença, atenta e empenhada, na blogosfera.
All About Jazz - Escolhas 2003
O editor do sítio All About Jazz, Nils Jacobson, apresentou as suas escolhas do ano 2003. Aqui ficam elas:
- Matthew Shipp - Equilibrium (Thirsty Ear)
- Mario Pavone Nu Trio/Quintet - Orange (Playscape)
- Jerry Granelli - The V16 Project (Songlines)
- Dave Holland Quintet - Extended Play/Live at Birdland (ECM)
- Scot Ray Quintet - Active Vapor Recovery (Cryptogramophone)
- Bill Frisell - The Intercontinentals (Nonesuch)
No que concerne a reedições, as suas escolhas recaíram sobre:
- Miles Davis - The Complete Jack Johnson Sessions (Columbia/Legacy)
- Giuffre/Bley/Swallow - Emphasis & Flight (1961) (Hatology)
- Matthew Shipp - Equilibrium (Thirsty Ear)
- Mario Pavone Nu Trio/Quintet - Orange (Playscape)
- Jerry Granelli - The V16 Project (Songlines)
- Dave Holland Quintet - Extended Play/Live at Birdland (ECM)
- Scot Ray Quintet - Active Vapor Recovery (Cryptogramophone)
- Bill Frisell - The Intercontinentals (Nonesuch)
No que concerne a reedições, as suas escolhas recaíram sobre:
- Miles Davis - The Complete Jack Johnson Sessions (Columbia/Legacy)
- Giuffre/Bley/Swallow - Emphasis & Flight (1961) (Hatology)
quinta-feira, janeiro 22, 2004
All Music
O nosso amigo Nikonman sugere-nos uma visita à interessante secção jazz do sítio All Music. Vale a pena passar por lá.
E-mail Improvisos Ao Sul
Todos aqueles que queiram entrar em contacto com o "Improvisos Ao Sul" podem também fazê-lo para o e-mail: improvisos@hotmail.com.
Jazz e gastronomia em Nova Orleães
É consensual que Nova Orleães foi a panela de barro do jazz. Foi nesta cosmopolita cidade do sul dos EUA que se reuniram os ingredientes necessários para confeccionar o saboroso cozido que é o jazz: herança africana, um toque de sabor europeu, negócios e prazer, q.b.. Nova Orleães espelha, ainda hoje, a multiplicidade de culturas que faz os EUA. Também na gastronomia, Nova Orleães consegue sintetizar os sabores mais tipicamente norte-americanos, mas, ao mesmo tempo, abrir-se às mais diversas influências. Não será o jazz isto mesmo?
Powell & Byas
Encontrei este disco em Lisboa a um preço simpático e comprei-o de imediato. Registo gravado em Paris, a 15 de Dezembro de 1961, em que Bud Powell (um dos pais do piano jazz moderno) e Don Byas (um dos saxofonistas-chave da transição swing-be bop - gravou com Amália Rodrigues) juntam-se a Kenny Clarke (baterista pioneiro do be-bop), Idrees Sulieman (trompetista) e Pierre Michelot (contrabaixista francês) para prestarem tributo a Julian "Cannonball" Adderley, o enorme (literalmente) saxofonista alto, que, para além de produzir este disco, participa num tema. Recomendo, para além de um "Cherokee", com o próprio Cannonball, uma versão de "I Remember Clifford" (de Benny Golson). Sublime.
quarta-feira, janeiro 21, 2004
O jazz nos media em Portugal
Estando a generalidade dos meios de comunicação social escrita e audiovisual, em Portugal, de costas voltadas para o jazz, salvo corajosas excepções, não deixa de ser estimulante que o actual Director Executivo do Observatório da Comunicação Social, Rui Cádima, tenha escolhido Miles Davis para ilustrar a entrevista que deu, ao final da tarde de hoje, ao jornalista e crítico de cinema João Lopes, na Antena 1. Para quando mais atenção ao jazz na comunicação social portuguesa?
Uma questão de fé...
O saxofonista, clarinetista e flautista Gary Bartz disse um dia: "Music is my religion. Music is the only thing that has never failed me. People let you down, music won't."
Blues People
Recorrentemente volto a este livro. Chama-se "Blues People" e foi publicado em 1963 pelo escritor norte-americano LeRoi Jones. Trata-se de uma obra que se debruça de uma forma corrosiva sobre as raízes profundas do jazz e do blues, enquadradas no contexto social, económico e cultural dos EUA. É a história da comunidade afro-americana nos EUA, dos seus dramas, das suas revoltas, das suas conquistas. E da sua (grande) música. De notar que foi o primeiro livro sobre jazz escrito por um negro... A propósito da diferença de tratamento entre músicos negros e brancos, escreve LeRoi Jones: "Swing demonstrates this again - that even at the expense of the most beautiful elements of Afro-American musical tradition, to be a successful (rich) musician, one had to be white. Benny Goodman was the "king of swing", not Fletcher Henderson, or Duke Ellington, or Count Basie".
terça-feira, janeiro 20, 2004
Agradecimentos Ao_Sul
Jazz e Educação
A National Association for Jazz Educators (NAJE) foi fundada em 1968, nos EUA, tendo passado a designar-se International Association for Jazz Education em 1989. Esta organização tem como objectivo central contribuir para o desenvolvimento e divulgação do jazz e do ensino do jazz, em todo o mundo, recorrendo a programas, projectos e outras iniciativas (workshops, concertos,...). Conta actualmente com mais de 8000 membros, entre músicos, professores, alunos, representantes da indústria musical, etc., em 35 países.
A propósito da realização da 31ª Reunião da IAJE, que vai ter lugar em Manhattan (Nova Iorque), o sítio jazzportug@l vai lá estar e promete notícias para breve.
A propósito da realização da 31ª Reunião da IAJE, que vai ter lugar em Manhattan (Nova Iorque), o sítio jazzportug@l vai lá estar e promete notícias para breve.
I Get A KIKO (Out of You)
As boas vozes masculinas de jazz estão em vias de extinção. Em Portugal, então, nem se fala... De vozes femininas até estamos bem servidos - Maria João, Jacinta, Maria Viana, Paula Oliveira, Fátima Serro, Maria Anadon, Joana Rios - mas de vozes masculinas... nada... até que...
Francisco "Kiko" António Pereira nasceu em Newark (EUA) há 33 anos. Hoje, trabalha como assistente de inspecção sanitária na lota de Matosinhos e... canta jazz! E muito bem! Lançou o seu primeiro álbum em nome próprio em 2003, "Raw" (ed. Discaudio), praticamente todo em regime de auto-financiamento. Neste disco, Kiko patenteia todos os seus admiráveis dotes vocais, desde a luminosidade soul de "Overjoyed" (de Stevie Wonder), à delicadeza de "Day Dream" (de Duke Ellington e Billy Strayhorn), ao swing contagiante de "I Get A Kick (Out of You)" (de Cole Porter).
Uma voz a reter... e a ouvir com atenção no próximo "Improvisos Ao Sul".
Francisco "Kiko" António Pereira nasceu em Newark (EUA) há 33 anos. Hoje, trabalha como assistente de inspecção sanitária na lota de Matosinhos e... canta jazz! E muito bem! Lançou o seu primeiro álbum em nome próprio em 2003, "Raw" (ed. Discaudio), praticamente todo em regime de auto-financiamento. Neste disco, Kiko patenteia todos os seus admiráveis dotes vocais, desde a luminosidade soul de "Overjoyed" (de Stevie Wonder), à delicadeza de "Day Dream" (de Duke Ellington e Billy Strayhorn), ao swing contagiante de "I Get A Kick (Out of You)" (de Cole Porter).
Uma voz a reter... e a ouvir com atenção no próximo "Improvisos Ao Sul".
segunda-feira, janeiro 19, 2004
Jazz no País do Improviso
Recomendo vivamente uma visita atenta ao blogue Jazz no País do Improviso, da responsabilidade de João Moreira dos Santos (joao_m_santos@hotmail.com), activo colaborador da revista "All Jazz".
De referir também que João Moreira dos Santos encontra-se actualmente a preparar um livro sobre a história do jazz em Portugal, que deverá ver a luz do dia até final do corrente ano. Quem tiver informações relevantes para o trabalho em causa, não hesite - contactem-no! Ele agradece!
Seria também MUITO interessante compilar informações sobre a história do jazz no Alentejo (músicos, formações, concertos, etc...). Alguém ajuda?
De referir também que João Moreira dos Santos encontra-se actualmente a preparar um livro sobre a história do jazz em Portugal, que deverá ver a luz do dia até final do corrente ano. Quem tiver informações relevantes para o trabalho em causa, não hesite - contactem-no! Ele agradece!
Seria também MUITO interessante compilar informações sobre a história do jazz no Alentejo (músicos, formações, concertos, etc...). Alguém ajuda?
Improvisos Ao Sul na All Jazz
O n.º9 da revista "All Jazz" (a única revista de jazz publicada em Portugal), já à venda, inclui uma referência ao "Improvisos Ao Sul". O único senão é o de que o horário indicado está desactualizado: o programa agora vai para o ar às sextas-feiras, entre as 23h e as 24h.
Neste número da "All Jazz" merecem destaque o ensaio sobre Cecil Taylor (pianista, compositor, poeta, dançarino, performer, ...), uma deliciosa crónica da autoria de João Moreira dos Santos sobre uma peça de teatro portuguesa destinada a satirizar o "jazz infernal" dos anos 30, intitulada "Txim, Txim, Txim, Pó, Pó, Pó, Pó", o blindfold test ao guitarrista Nuno Ferreira e a entrevista com Frank Kimbrough, para além de recensões a discos e crónicas dos festivais de Verão 2003.
Neste número da "All Jazz" merecem destaque o ensaio sobre Cecil Taylor (pianista, compositor, poeta, dançarino, performer, ...), uma deliciosa crónica da autoria de João Moreira dos Santos sobre uma peça de teatro portuguesa destinada a satirizar o "jazz infernal" dos anos 30, intitulada "Txim, Txim, Txim, Pó, Pó, Pó, Pó", o blindfold test ao guitarrista Nuno Ferreira e a entrevista com Frank Kimbrough, para além de recensões a discos e crónicas dos festivais de Verão 2003.
domingo, janeiro 18, 2004
Palavras simpáticas
Registamos e agradecemos as palavras simpáticas do Nikonman, no blogue Praça da República.
Todos seremos poucos para defendermos o jazz e o Alentejo.
Humildemente, mas com perseverança, cá estaremos para desempenhar o nosso papel.
Todos seremos poucos para defendermos o jazz e o Alentejo.
Humildemente, mas com perseverança, cá estaremos para desempenhar o nosso papel.
Improvisos Ao Sul
Caros amigos,
Este blogue, que agora inauguramos, é dedicado a duas das nossas grandes paixões: o jazz e o Alentejo.
Pretende ser um espaço de comentário e discussão de assuntos ligados ao jazz, antigo e moderno, português e internacional, conhecido e incógnito, rico e pobre. Sempre com o Alentejo como pano de fundo.
O blogue serve de complemento ao programa de rádio "Improvisos Ao Sul", que vai para o ar na Rádio Voz da Planície (104.5 FM - Beja), às sextas-feiras à noite, entre as 23h e as 24h, com realização e apresentação de Ana de Freitas e António Branco.
Com praticamente um ano e meio de emissões, julgamos que estava na hora de criar este espaço de interactividade, não só com os ouvintes do programa, mas também com todos aqueles que partilham connosco a paixão pelo jazz e pelo Alentejo.
Por isso, estão convidados a dar o vosso contributo.
Sejam todos benvindos!
AB + AF
Este blogue, que agora inauguramos, é dedicado a duas das nossas grandes paixões: o jazz e o Alentejo.
Pretende ser um espaço de comentário e discussão de assuntos ligados ao jazz, antigo e moderno, português e internacional, conhecido e incógnito, rico e pobre. Sempre com o Alentejo como pano de fundo.
O blogue serve de complemento ao programa de rádio "Improvisos Ao Sul", que vai para o ar na Rádio Voz da Planície (104.5 FM - Beja), às sextas-feiras à noite, entre as 23h e as 24h, com realização e apresentação de Ana de Freitas e António Branco.
Com praticamente um ano e meio de emissões, julgamos que estava na hora de criar este espaço de interactividade, não só com os ouvintes do programa, mas também com todos aqueles que partilham connosco a paixão pelo jazz e pelo Alentejo.
Por isso, estão convidados a dar o vosso contributo.
Sejam todos benvindos!
AB + AF